20 de março de 2023

nada além de um texto

Faz meses que desejo escrever, mas não consigo. A verdade é que algo dentro de mim morreu. Sinto isso o tempo inteiro e, pela primeira vez, não posso expurgar por meio das palavras todo o marasmo que abrigo. Talvez "sentir" seja o verbo que mais utilizo em tudo o que escrevo, digo, penso etc. Talvez eu sinta muito, o tempo inteiro. Mas sabe o que mais me causa aflição? Perceber que ninguém se importa, que os meus sentimentos são dispensáveis e triviais. Porque é isto o que eles são: Um grande amontoado de nada ou quase nada.

Sentir, na sociedade em que vivemos, é insensato, um absurdo. A situação se torna pior quando o verbo sentir é expurgado, materializado, regurgitado. Ninguém admira, nem sequer nota. Porque, afinal, sentir é um crime social. Somos censurados cotidianamente, o tempo inteiro. Não podemos demonstrar o que sentimos, pois isso é praticamente um atestado de imaturidade, de leviandade. Assumir o que sente é como aderir à infantilidade e não sei o porquê disto, de associar os defeitos das pessoas à infância, como se o infante fosse inferior a nós, meros mortais automatizados que não aceitam viver sem um manual de instruções, além de se recusarem a assumir a própria dor.

Viver cansa e todos os dias procuro compreender o porquê de ter nascido, todavia, não encontro. Viver é sem noção. Queria desaparecer, deixar o mundo em que vivo, o meu corpo, tudo para trás. Ser apenas eu, em essência. Livre. Não possuo nada de especial, significativo e coisa alguma me cativa, bem como não cativo nada ou ninguém. Qual a necessidade da minha existência aqui? Nenhuma. É a realidade, nos resta aceitá-la. O meu nascimento foi um terrível engano e não há mais o que ser feito, me resta viver de maneira mais imperceptível possível, como o fantasma que tanto me sinto, desde sempre.

Mais uma vez, sinto que vivo por obrigação. A minha vida é uma expiação. Não me sinto conectada ao ser humano, pois não sinto que sou um ser humano. Difícil explicar. Não possuo perspectivas, planos, os meus sonhos se foram há tempos e não pude segurá-los. Quem sou eu? Desconheço. Perdi a minha própria identidade, estou a vagar solitariamente entre as pessoas, mas não as reconheço e não sou reconhecida por elas.

Às vezes penso que isto aqui é um sonho (ou um terrível pesadelo, para ser mais exata) e a qualquer momento irei acordar, me sentir não apenas parte de algo, mas a própria substância, a própria coisa que busco e não sei o que é, apenas que ela existe... Ou seria um lugar?

Não suporto mais repetir palavras, porém, substituí-las por sinônimos seria como negar o que em verdade sinto. E, francamente, terminei de constatar que, disso, nem eu mesma sei.

Nota: O pior texto que escrevi até hoje. Um reflexo do meu interior nos últimos anos.


🍂{17 de março de 2019}🍂

23 de agosto de 2020

Begin

Alison Scarpulla


Com sua sensibilidade ironicamente convencional, ela encontrava o sucesso na mais nobre causa invisível ao analfabetismo do olhar humano. À primeira vista, sua imagem era hostilizada e atrasada. Mas sua alma...


Sua alma era limpa, lúcida, sintetizada com a indignação humana e compreensível como o mundo ao olhar de uma borboleta!

É apenas o que me recordo dela.